O site de vazamento de documentos secretos WikiLeaks ganhou notoriedade pela primeira vez em meados deste ano, quando divulgou um vídeo no qual militares dos Estados Unidos fuzilam iraquianos de um helicóptero. Criado por Julian Assange, o site é considerado um novo ícone do jornalismo investigativo. Desde julho de 2007, o WikiLeaks publica documentos delicados por meio do que descreve como "vazamento com princípios". O site já abrigou mais de 1 milhão de documentos, desde o manual da prisão de Guantánamo até a lista de filiados do Partido Nacional britânico, de extrema-direita.
Seu vazamento de mais alto impacto havia sido em abril deste ano, com um vídeo de 2007 que mostra um helicóptero dos EUA disparando contra um grupo em Bagdá, matando dois funcionários da agência de notícias Reuters. Assange não viaja aos EUA desde então, por receio de ser preso. Contudo, o site voltou às manchetes de todo o mundo com vazamentos de milhares de documentos das guerras do Afeganistão e do Iraque e, em seu mais recente "lançamento", 250 mil documentos secretos diplomáticos dos EUA.
Cerca de 250 mil documentos diplomáticos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA vieram à tona divulgados pelo site WikiLeaks. Os chamados "cables" revelam detalhes secretos, alguns bastante curiosos, da política externa estadunidense entre dezembro de 1966 e fevereiro deste ano, em um caso que começa a ficar conhecido como "Cablegate".
São 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas. Destes, 145.451 tratam de política externa, 122.896, de assuntos internos dos governos, 55.211, de direitos humanos, 49.044, de condições econômicas, 28.801, de terrorismo e 6.532, do Conselho de Segurança da ONU. A maioria dos documentos (15.365) fala sobre o Iraque. Os telegramas foram divulgados por meio de um grupo de publicações internacionais: "The New York Times" (EUA), "Guardian" (Reino Unido), "El País" (Espanha), "Le Monde" (França) e "Der Spiegel" (Alemanha).
Veja abaixo algumas das principais revelações presentes nos cerca de 250 mil documentos divulgados pelo WikiLeaks.
• O Politburo, segundo organismo mais importante do governo da China, comandou a invasão dos sistemas de computador do Google no país, como parte de uma campanha de sabotagem a computadores, realizada por funcionários do governo, especialistas particulares e criminosos da internet contratados pelo governo chinês. Eles também invadiram computadores do governo americano e de aliados ocidentais, do Dalai Lama e de empresas americanas desde 2002.
• O rei Abdullah, da Arábia Saudita, repetidamente pediu aos EUA para atacar o Irã e destruir seu programa nuclear, além de, segundo registros, ter aconselhado Washington a 'cortar a cabeça da cobra' enquanto ainda havia tempo.
• Doadores sauditas continuam sendo os principais financiadores de grupos militantes sunitas, como a Al Qaeda; e o pequeno Estado do Qatar, generoso anfitrião do Exército americano no golfo Pérsico por anos, era 'o pior da região' em esforços de combate ao terrorismo, segundo um telegrama ao Departamento de Estado em dezembro do ano passado.
• Representantes dos EUA e da Coréia do Sul discutiram a possibilidade de uma Coréia unificada se os problemas econômicos da Coréia do Norte e a transição político no país levassem o Estado a implodir. Os sul-coreanos chegaram a considerar incentivos econômicos à China para 'ajudar a aliviar' as preocupações de Pequim sobre o convívio com uma Coréia reunificada em 'aliança benigna' com Washington, segundo o embaixador americano em Seul.
• Desde 2007, os EUA montaram um esforço secreto e, até agora, mal sucedido para remover urânio altamente enriquecido do reator de pesquisa do Paquistão, com medo de que pudesse ser desviado para uso em um reator nuclear ilícito.
• O Irã obteve mísseis sofisticados da Coréia do Norte, capazes de atingir o leste europeu, e os EUA estavam preocupados de que o Irã estaria usando esses foguetes como 'peças de montagem' para construir mísseis de mais longo alcance. Os mísseis avançados são muito mais poderosos do que qualquer equipamento que os EUA publicamente reconheceram existir no arsenal iraniano.
• Quando o vice-presidente afegão, Ahmed Zia Massou, visitou os Emirados Árabes Unidos no ano passado, autoridades locais trabalhando para a Agência de Controle às Drogas descobriram que ele carregava US$ 52 milhões em dinheiro vivo. Segundo o telegrama da embaixada americana em Cabul, ele pode manter o dinheiro sem revelar a origem ou destino do montante.
• Diplomatas americanos barganharam com outros países para ajudar a esvaziar a prisão da baía de Guantánamo, realocando detentos. Por exemplo, foi pedido que a Eslovénia aceitasse um prisioneiro se quisesse agendar um encontro com o presidente Barack Obama. A República de Kiribati recebeu oferta de incentivos valendo milhões de dólares para aceitar detentos muçulmanos chineses. Em outro caso, aceitar mais presos foi descrito como 'uma forma de baixo custo para a Bélgica alcançar proeminência na Europa'.
• Os EUA não conseguiram evitar que a Síria fornecesse armas ao Hizbollah no Líbano, que acumulou um grande arsenal desde a guerra de 2006 com Israel. Uma semana após o presidente sírio, Bashar al Assad, prometer a um alto representante americano que não mandaria 'novas' armas ao Hizbollah, os EUA reclamaram que tinham informações de que a Síria estava dando ao grupo armas cada vez mais sofisticadas.
• Os americanos estariam preocupados com o uso da informática e ataques pela internet na China. Diplomatas dos EUA dizem que os chineses, após 2002, estão recrutando técnicos que acessam redes no mundo inteiro, principalmente do governo, empresas e aliados americanos.
• Chefes de governos são citados em várias passagens. O presidente francês Nicolas Sarkozy, por exemplo, foi descrito como "delicado" e "autoritário", de acordo com o jornal 'Le Monde', um dos cinco periódicos que tiveram acesso à publicação antecipadamente. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estaria 'louco' e transformando o seu país em 'outro Zimbábue', segundo um diplomata francês.
• Os Estados Unidos pediram em março de 2008, um mês antes da última eleição presidencial paraguaia, informações detalhadas sobre os candidatos que incluíam "dados biométricos, incluindo impressões digitais, imagens faciais e dados para reconhecimento da íris, e DNA".
• Uma mensagem da secretaria de Estado dos EUA à embaixada americana em Assunção relata a preocupação do governo americano com a suposta presença de grupos como Al Qaeda, Hizbollah e Hamas na tríplice fronteira, entre Brasil, Paraguai e Argentina.
• O departamento de Estado americano pediu no ano passado aos funcionários de 38 embaixadas e missões diplomáticas uma relação detalhada de dados pessoais e de outra natureza sobre as Nações Unidas, inclusive sobre o secretário-geral, Ban Ki-moon, e especialmente sobre os funcionários e representantes ligados ao Sudão, Afeganistão, Somália, Irã e Coréia do Norte, segundo o jornal 'El País'.
• Diplomatas americanos em Roma comunicaram em 2009 que suas fontes italianas descrevem como uma estreita ligação entre o premiê russo Vladmir V. Putin, e o premiê italiano, Sílvio Berlusconi, incluindo generosos presentes e lucrativos contratos de energia por uma intermediação sombria.
• Pairam dúvidas americanas sobre a confiança nas forças da Turquia, aliada da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), retratada como fraca e permeada por islâmicos.
• Um tributo pago em viagens áreas que entrou em vigor no último mês deixou os americanos irritados. A revolta de Washington com uma nova tarifa alfandegária para passageiros, acordos britânicos de extradição com os EUA e inspeções mais frouxas com paquistaneses aparecem em memorandos publicados.
• Autoridades americanas advertiram a Alemanha em 2007 para não prenderem agentes da CIA envolvidos em uma fracassada operação em que um alemão inocente com o mesmo nome de um suspeito foi erroneamente sequestrado por meses no Afeganistão. Um alto diplomata americano disse que "a intenção é que o governo alemão pese cuidadosamente cada passo com as implicações no relacionamento com os EUA".
O site WikiLeaks divulgou também que, para os EUA, o Brasil disfarça a prisão de terroristas. O relato foi feito em 2008 pelo então embaixador estadunidense em Brasília, Clifford Sobel a partir de informações de agentes duplos dos Estados Unidos que trabalham no Governo brasileiro. O relato consta de lote de 1.947 telegramas da diplomacia americana na última década.
Veja um destes telegramas traduzido
SECRETO BRASILIA 001207
SIPDIS
E.O. 12958: DECL: 05/05/2015
TAGS: PINR PREL BR Relações bilaterais com os EUA
TEMA: BRASIL: Almoço do embaixador com o general Jorge Armando Felix, ministro da Segurança Institucional. Classificado pelo embaixador John J. Danilovich por motivos 1.4 (B),(C) e (D).
1.(S) Embaixador recebeu o general Jorge Armando Felix, ministro da Segurança Institucional, em um almoço na residência em 4 de maio de 2005. Embora o general Felix tenha muito menos influência que seu predecessor do governo anterior, ainda é o mais alto funcionário de inteligência do país, e seu cargo equivale aproximadamente ao de assessor de segurança nacional do presidente. Além de sua equipe própria no Ministério de Segurança Institucional (GSI), que conta com representantes das diversas agências de segurança e de relações exteriores do governo brasileiro, o general Felix também é responsável por comandar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
2. (S) A região da Tríplice Fronteira: O embaixador pediu ao general Felix uma avaliação da situação da criminalidade transnacional na região da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. O general Felix admitiu que há problemas sérios na região e que a movimentação ilegal de armas, dinheiro, drogas e afins pela região é motivo de preocupação para o governo brasileiro. Feliz disse que tanto a Abin quanto a Polícia Federal brasileira (PF) estão dedicando pessoal e recursos adicionais ao problema e observou que a Abin tem até mesmo alguns programas conjuntos com o RMAS (Regional Movement Alert System, um sistema que detecta passaportes inválidos, perdidos ou falsificados) voltados a essas questões.
3. (S) Contraterrorismo: Isso levou a uma discussão das questões/operações de terrorismo na região da tríplice fronteira e em todo o Brasil. O general Felix disse que a Abin cooperou estreitamente com o RMAS para fazer a investigação conjunta de indivíduos que despertam o interesse, e o embaixador expressou sua apreciação por essa assistência. O general Felix disse que, além das operações conjuntas nas quais estamos trabalhando juntos, o governo brasileiro também está lançando apelos a árabes moderados de segunda geração, muitos dos quais são empresários bem-sucedidos no Brasil, para que acompanhem de perto o que fazem outros árabes que podem ser influenciados por extremistas e/ou grupos terroristas árabes. O general Felix disse que é do interesse desses árabes moderados manter potenciais incendiários sob controle e manter a atenção longe da comunidade árabe no Brasil. O general Felix disse que o recém-assassinado ex-primeiro-ministro do Líbano transmitira a mesma mensagem à comunidade árabe brasileira durante visita ao país alguns anos atrás. O general Felix disse que é importante que as operações de contraterrorismo sejam apropriadamente apresentadas, de modo a não refletir negativamente sobre a orgulhosa e bem-sucedida comunidade árabe do Brasil.
4. (S) Venezuela: Após a discussão sobre CT [contraterrorismo], o embaixador levantou a questão da Venezuela e seu presidente, Hugo Chávez, e observou que Chávez está atrapalhando os esforços do Brasil para exercer um papel de liderança política e econômica na América do Sul. O general Felix fez um gesto de concordância e pareceu estar medindo sua resposta com muito cuidado. Disse, então, que tem suas opiniões pessoais sobre Chávez (que não compartilhou), que diferem da posição do governo brasileiro. Isto dito, o general Felix falou que prefere seguir a posição oficial (embora tampouco tenha dado maiores explicações a esse respeito). Felix observou que, quer sejamos pró ou anti-Chávez, este já se tornou uma parte integral da realidade 'latino-americana'.
5. (S) Assistência adicional: O embaixador perguntou ao general Felix se existem áreas em que o USG [US government, governo dos EUA] possa prestar ajuda melhor ao GSI e/ou à Abin. Felix disse que está muito satisfeito com a assistência que está sendo dada atualmente pelo USG. Uma área na qual ele afirmou que o governo brasileiro está deixando a desejar é a proteção de seus próprios sistemas computadorizados classificados e não classificados. Felix disse que saudaria qualquer assistência (cursos, visitas, etc.) nessa área. Feliz também disse que está tentando reforçar as capacidades de SIGINT do GSI e da Abin e que sempre poderia fazer bom uso de alguma assistência nesse sentido.
6. (S) Comentário da Embaixada: O general Felix é um indivíduo simpático e discreto. Ele não parece ser excessivamente ambicioso e admitiu que prefere viajar por prazer que a trabalho. Ele não é alguém que vá ganhar grande destaque, e esse fato provavelmente contribuiu para que ele pisasse com cuidado na discussão sobre a Venezuela. Isto dito, o general Felix sempre foi um interlocutor franco, e seu período à frente do GSI tem se destacado por operações de CT conjuntas e muito cooperativas entre o RMAS e a Abin. Levando tudo em conta, sua presença contínua no GSI pode ser vista como positiva para os interesses dos EUA. DANILOVICH 2005-05-06
Apoiar o site WikiLeaks é permitir que a sociedade tome conhecimento de documentos secretos dessas nações que se acham donas do mundo. A intervenção na segurança nacional dos países precisa ser condenada. Estão tentando condenar quem está na defesa da autonomia dos países. As publicações do site mostram a participação de agentes do Governo brasileiro, considerados como agentes duplos, esses sim precisam ser condenados.
As publicações mostram que os militares brasileiros ainda não perderam a dependência institucional dos Estados Unidos da época da Ditadura Militar. O relato da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil sobre a subserviência do general Felix responsável por comandar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é o exemplo dessa subserviência. O site WikiLeaks nos trouxe detalhes que nos deixa em alerta do que esse pessoal deve está planejando para o futuro do Brasil e do mundo. Por isso, todo apoio ao site WikiLeaks, pois poderemos saber o que estão fazendo, pensando e planejando contra a humanidade.
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