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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Conflito das Coréias e a possibilidade de uma nova Guerra


O mundo depois da Segunda Guerra foi marcado pelo conflito da Guerra Fria. Nesse conflito, estiveram em disputa dois modelos de sociedade. Um coordenado pelos Estados Unidos defendendo o capitalismo e o outro coordenado pela União Soviética defendendo o socialismo. As duas principais potências implementaram uma disputa mundial em busca de fortalecimento de um ou do outro bloco político. É nesse contexto que compreenderemos o conflito que dividiu a Coréia em dois diferentes Estados Nacionais um capitalista (Coréia do Sul) e outro socialista (Coréia do Norte).

A divisão da Ilha da Coréia é anterior ao conflito já que, durante o processo de ocupação das áreas colonizadas pelo Japão, durante a Segunda Guerra Mundial, as tropas norte-americanas controlaram o sul e os exércitos soviéticos controlaram a parte norte. A partir desse processo de ocupação militar, as duas potências resolveram criar uma fronteira artificial que delimitaria o predomínio de ambas naquela região. Após um acordo, o paralelo 38° fixou os limites da socialista Coréia do Norte e da capitalista Coréia do Sul.

Esse projeto de equilíbrio de forças logo foi desestabilizado com a Revolução Socialista da República Popular da China, em 1949. O país que fazia fronteira com a Coréia do Norte conseguiu estabelecer uma experiência revolucionária comunista ao longo do extenso território chinês. Inspirados pela experiência vizinha, as lideranças políticas norte-coreanas, no ano seguinte, apoiaram o projeto de reunificação do país através da declaração de uma guerra.

A invasão dos norte-coreanos gerou reação dos Estados Unidos que logo convocaram uma reunião nas instalações da Organização das Nações Unidas. Aproveitando a ausência da autoridade diplomática soviética, que tinha poder de veto, os EUA conseguiram a aprovação para que enviassem tropas contra a ofensiva dos socialistas. Em setembro daquele mesmo ano os Estados Unidos enviaram forças militares contra a Coréia do Norte. Em pouco tempo, conseguiram algumas importantes vitórias.

Entretanto, as ações dos norte-coreanos logo foram bem vistas pelo líder comunista chinês Mão-Tsé tung, que logo cedeu tropas em sinal de apoio. Esse incremento militar chinês obrigou as tropas dos Estados Unidos a recuarem para os limites do paralelo 38º. Sentindo-se visivelmente ameaçado pelo poderio militar socialista, o general MacArthur – líder do exército estadunidense – chegou a requerer o uso de armamento nuclear para dar uma “rápida solução” ao conflito.

A possibilidade de uma guerra nuclear foi logo descartada pelas autoridades estadunidenses, que preferiram partir para as negociações diplomáticas. O equilíbrio de forças militares entre os dois lados do conflito acabou viabilizando as negociações, já que nenhum tipo de avanço militar significativo ocorreu nos dois anos seguintes daquela guerra. Em 1953, o Tratado de Pan-munjom encerrou a Guerra da Coréia e restaurou os limites territoriais do paralelo 38º.

Mesmo com o fim da Guerra da Coréia, a tensão entre essas duas nações não chegou a um ponto final. O lado norte, aproveitando do apoio da China e da União Soviética conseguido durante o auge do bloco socialista, buscou meio para melhorar seus índices de saúde e educação com fortes investimentos sociais. Além disso, aproveitou deste período para empreender um forte projeto de tecnologia bélica e nuclear. Essa última medida promoveu fortes incômodos diplomáticos entre Estados Unidos e Coréia do Norte.

A região sul hoje integra uma das mais sólidas e prósperas economias capitalistas do mundo. A ajuda financeira oferecida pelos Estados Unidos conseguiu superar os problemas econômicos e sociais existentes. O sucesso da economia sul-coreana atingiu seu auge quando, no ano de 2002, o país sediou alguns jogos da Copa do Mundo de Futebol. O país é considerado um Tigre Asiático com forte desenvolvimento econômico, bem como investimentos na melhoria da qualidade de vida da população. Entretanto, nos últimos anos tem passado por sucessivas crises econômicas que tem gerado desemprego e fortes reações populares.

Em Novembro de 2010 a Coréia do Norte realizou disparos de artilharia contra uma ilha sul-coreana, perto da fronteira, voltando a elevar a tensão entre os dois países. A Coréia do Sul respondeu também com ataques de artilharia e colocou o seu país em alerta militar no nível mais alto fora de um período de guerra. O incidente está sendo visto como o mais grave desde a Guerra da Coréia, nos anos 50, e acontece após oito meses de tensão depois do afundamento do navio de guerra sul-coreano.

Estados Unidos e Japão expressaram apoio à Coréia do Sul e à declaração do Conselho de Segurança da ONU condenando a Coréia do Norte. Após a declaração, o exército estadunidense começaram a realizar uma série de exercícios militares conjuntos com a Coréia do Sul no Mar do Japão. Autoridades militares dos Estados Unidos dizem que os exercícios foram planejados como uma demonstração de força à Coréia do Norte.

O ministro da Defesa da Coréia do Sul, Kim Kwan-jin, já assegurou que seu país responderá com uma ofensiva aérea no caso de a Coréia do Norte realizar novos ataques, após o que ocorreu em 23 de novembro. Nesse ataque a Coréia do Norte realizou cerca de 170 disparos de artilharia contra a ilha sul coreana, na fronteira entra os dois países vizinhos no Mar Amarelo, deixando quatro mortos, 18 feridos e danos materiais.

O Exército sul-coreano respondeu com cerca de 80 projéteis, mas, segundo especialistas que analisaram imagens por satélite, errou todos os alvos.

Já o ministro das Forças Armadas da Coréia do Norte afirmou também que seu país está pronto para uma "guerra sagrada por justiça" com a utilização de estratégia nuclear.
Kim Yong-chun disse que os exercícios militares conduzidos pela Coréia do Sul, conjuntamente com os Estados Unidos, perto da fronteira entre os dois países são a preparação para uma guerra com a Coréia do Norte. Os exercícios foram um dos maiores da história da Coréia do Sul, envolvendo tanques, helicópteros e caças.

As tensões atuais na ilha da Coréia entre os dois países mostram as conseqüências geradas pela disputa da Guerra Fria entre as duas potências (Estados Unidos e União Soviética). Apesar da Guerra Fria tem acabado com o fim da União Soviética em 1992 os conflitos gerados nesse período ainda continuam em muitos países.

O conflito na Ilha da Coréia ainda está em jogo a disputa entre um modelo de sociedade e outro (socialismo X capitalismo). Daí os interesses dos Estados Unidos em apoiar a Coréia do Sul, sua aliada no período da Guerra Fria. Acabar a Coréia do Norte, para os Estados Unidos, é enfraquecer o bloco socialista que continua existindo mesmo com o fim da Guerra Fria. A possibilidade de uma nova Guerra da Coréia poderá ser diferente da primeira. Com a tecnologia militar que os dois países atualmente possuem e as ameaças de ambas as partes pode-se iniciar uma guerra nuclear.

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