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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Corrupção: uma marcha vazia e sem educação


José Cristian Góes

Combater a corrupção é importante, não resta nenhuma dúvida, mas é uma ação superficial e vazia em si. Serve mais ao discurso político moralizante do que à solução prática do problema.

Na última semana, uma pequena parte da desavergonhada elite brasileira saiu às ruas. Aproveitou-se do clima das históricas contestações do Grito dos Excluídos, em 7 de setembro, para liderar uma marcha contra corrupção. Quanta hipocrisia! Organizada por vários empresários das mais suspeitas atividades, a tal marcha atraiu, a partir de um discurso moralista superficial, muita gente e entidades até bem intencionadas, mas que não parecem enxergar um palmo à frente do próprio nariz.

Ainda no mesmo dia, boa parte da grande mídia comercial festejou os atos dos colarinhos brancos contra corrupção. Pense numa hipocrisia?! Ela também, a mídia, em muitos lugares, ocultou o Grito dos Excluídos porque uma das pautas dos movimentos populares é a democratização da comunicação. Aí a mídia reage a este tema como o diabo diante de uma cruz. No dia seguinte, senadores e deputados do PSDB, PMDB e do DEM fizeram discursos no Congresso elogiando a marcha contra corrupção. Alguns deles até participaram do evento. Vejam quanta hipocrisia junta!

Não há dúvida de que a corrupção é um mal gigantesco e que precisa ser combatido. Mas devagar com o andor, porque santo nessa história.... Primeiro, a corrupção não é exclusividade do poder público, do Estado. Ou não há corrupção generalizada na iniciativa privada? O que fazem os empresários que sonegam impostos, que subornam servidores do público, que financiam campanhas eleitorais com intenções nada saudáveis, que poluem, desmatam, etc, etc e etc? E o que dizer de nossas ações corruptas pessoais, àquelas do cotidiano, que de tão comuns se tornaram naturais? Tem mais grave corrupção do que a venda do voto e da consciência, por exemplo? Sejamos, minimamente, honestos!

Combater a corrupção é importante, não resta nenhuma dúvida, mas é uma ação superficial e vazia em si. Serve mais ao discurso político moralizante do que à solução prática do problema. Tentar coibir a corrupção é atacar apenas os efeitos e não suas causas. Corrupção é fruto e não semente. Claro que a ingestão desse fruto é uma tragédia, mas não é acabando com ele que se resolve, mas indo até a semente.

A marcha contra corrupção não quer saber da essência que provoca esse mal. Quer tão somente o discurso fácil, despolitizado e espetacularizado pela mídia. Não desce à raiz. E não chega à raiz do problema porque se isso acontecer à população compreenderá, com consciência, como funciona a sociedade de classes que temos e rejeitará esse modelo desumano imposto por elite econômica e, justamente, corrupta.

Reflitamos mais um pouco. Este é o convite. Por que não há uma grande mobilização nacional, com marchas, campanhas em toda mídia, com envolvimento das denominações religiosas e das entidades nacionais para que este rico país tenha reforma agrária e urbana? Marcha para que os mais ricos paguem mais impostos sobre seus rendimentos e patrimônio? Caminhada para que se tenha uma saúde pública onde não se permita tantas mortes por falta de atendimento básico? Mobilização para que se tenha uma política séria de infância e adolescência que promova a vida e garanta a esperança de algum futuro? Uma grande marcha por uma educação pública de qualidade? E é aqui está o nó.

Educação, ou melhor, a sua falta é a raiz da corrupção. É através da educação - não àquele que o empresariado quer - que o ser se reconhece como humano, que são estabelecidos valores como honestidade, justiça, solidariedade, bem comum. É pela educação - e não apenas com o desenhar o nome - que o cidadão toma consciência do quanto é explorado, o quanto é mercadoria, o quanto é vítima e participante dos processos de corrupção. É por uma educação libertária e emancipatória que se debela a corrupção. Mas as marchas, comandadas pelas elites, pelos inocentes úteis e com acompanhamento da grande mídia jamais vão defender esse tipo de educação, porque acaba por empoderar os mais pobres e os ajuda a romper com este modelo de sociedade que temos que, vejam só, produz exatamente a corrupção. Marchar para aonde?

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