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domingo, 2 de janeiro de 2011

Lula fecha com chave de ouro seu governo ao conceder refúgio político a Cesare Battisti

Inscrito por Laerte Braga

A decisão do presidente Lula de conceder refúgio político ao escrito
italiano Cesare Battisti é correta sob todos os aspectos. O governo italiano
não conseguiu provar junto à Justiça brasileira que Battisti é culpado dos
crimes dos quais é acusado e tampouco oferecer garantias de um julgamento
justo, no caso da extradição, até em observância ao que determina o tratado
sobre o assunto entre Brasil e Itália.

Foi desastrada a ação do governo de Berlusconi (como desastrado é o seu
governo) na condução do processo. Vergonhosa a atitude do ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) quando recebeu o embaixador da Itália pela porta
dos fundos do seu gabinete e suas atitudes após essa visita.

Tratou o Brasil, os brasileiros, o governo, como se fossem lacaios de um
governante irresponsável – Berlusconi.

A expressão “terrorista” usada pela mídia privada brasileira para rotular
Battisti perdeu o sentido depois do WIKILEAKS e do terrorismo (sem aspas)
praticado por norte-americanos e seus aliados (colônias) em todo o mundo.

Não cabe julgar politicamente a participação de Battisti no processo de
resistência em determinada época a governos italianos. François Mitterand,
socialista e presidente da França por 14 anos não hesitou um só instante em
conceder asilo a Battisti.

O que está no centro do palco é outro tipo de jogo. Um jogo sórdido do
primeiro-ministro Berlusconi, contestado por manifestações em toda a Itália
e que queria exibir a cabeça de Battisti como troféu para tentar um novo
mandato.

E, ademais, é da tradição brasileira abrigar, refugiar, asilar perseguidos
políticos. Foi assim com George Bidault, líder fascista francês. Com Marcelo
Caetano herdeiro do salazarismo depois da Revolução dos Cravos em Portugal.
Não poderia ser diferente com Battisti.

A decisão final, segundo a Constituição, é do presidente da República. Todas
as medidas protelatórias foram tentadas por Gilmar Mendes. À época
presidente do STF E notoriamente ligado a grupos de extrema-direita e
empresários envolvidos em corrupção (Daniel Dantas).

Sequer se preocupa em disfarçar, mesmo porque lhe falta o tal “notável saber
jurídico”. Tanto quanto a “reputação ilibada” para integrar a mais alta
corte de justiça do País. É invenção de FHC para garantir a impunidade da
turma.

A decisão de Lula foi coerente com sua história, respaldada no Direito e
reforça a tradição brasileira de braços abertos aos perseguidos políticos em
outros países (exceção vivida apenas no período da ditadura militar, ela
própria perseguidora).

Não se pode excluir a possibilidade de setores de extrema-direita tentarem
reverter a decisão através de manobras comuns e típicas a esses foras da
lei. A mídia privada, com toda a certeza, vai incentivar. No apagar das luzes de seu governo o presidente da República assume a atitude de estadista num caso como este.

O que pouca gente sabe – é lógico, a mídia privada está no bolso e esconde –
é que Berlusconi tem grandes negócios no Brasil e seus tentáculos chegam a
setores do mundo institucional, com a prodigalidade típica dos corruptos.

Não há cabimento no argumento que temos nossos problemas e não devemos nos
ocupar dos problemas dos outros. Battisti está preso no Brasil, buscou o nosso País para refugiar-se de ações ilegais do governo de seu país, logo é um problema nosso. Conceder ou não o status de refugiado político não muda as condições da saúde pública ou da educação por aqui.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas conceder o refúgio a Battisti reforça a grandeza da política externa brasileira e das tradições de paz e liberdade de nosso País. São coisas distintas, portanto. Esse é o típico argumento de quem não enxerga um palmo adiante do nariz, ou se enxerga, enxerga apenas o nariz e não o todo. Não se tem notícia de nariz que caminhe por si próprio.

Battisti foi partícipe de um processo de lutas que permeava toda a Europa na
década de 60 e se estendia a todo o mundo de um modo geral. Um processo
decisivo na construção de estradas passíveis de se começar a abrir picadas
em meio a um estado autoritário no seu todo, mesmo em supostas democracias
como a italiana.

Lula fecha com chave de ouro seu governo – ao qual cabem críticas, evidente
– ao conceder refúgio político a Cesare Battisti sem se intimidar com a cara
feia de um governo que preside uma colônia norte-americana na Europa, o
italiano e a Itália e é antes de mais nada uma reedição trágica dos momentos
pornográficos dos césares, ou histriônicos do Duce.

E não poderia ser diferente, Berlusconi é banqueiro. Mostra um Brasil diferente daquele de FHC. Um Brasil que a despeito dos problemas, das críticas que possam ser feitas, caminhando ereto, de pé, que se espera, aliás, continue a ser assim com Dilma Roussef.

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