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terça-feira, 17 de julho de 2012

Eleições: Aracaju nas mãos de quem?



Por Cristian Góes

Nas mãos de quem?
As campanhas eleitorais começam timidamente a ganhar as ruas. Ao contrário do que se pensa e pratica, são os eleitores, e não os candidatos, que dão o rumo de qualquer campanha. Ocorre que, em razão de um processo eletivo majoritariamente corrupto, a grande maioria dos eleitores também “vendeu” essa possibilidade de agendar a campanha, deixando os candidatos livres de compromissos.

Sem participar como deveriam, eleitores apenas entram na onda do voto e, movidos por paixões imbecis, não levam em conta o que realmente interessa: a gestão pública da cidade, do ambiente onde se nasce, vive e morre.

Aracaju, por exemplo, vive no limite para o caos urbano. Escolher um ou outro candidato significa escolher que polis teremos. O crescimento desordenado e especulativo desenvolvido por várias gestões públicas em Aracaju deu o tom da cidade que se tem agora.

São gravíssimos os problemas ambientais, transportes e trânsito cada vez mais insuportáveis, invasões consentidas de áreas públicas por grandes capitalistas, destruição de patrimônios culturais, ataque à educação e saúde públicas, redução das áreas verdes e livres de lazer, entre tantos outros crimes.

Aracaju é capital da qualidade de vida sim, mas para poucos. É sim, terrivelmente injusta para a maioria de seu povo. Dado Censo 2010 do IBGE e outras estatísticas sobre a cidade provam isso.

No ano passado, por exemplo, dos 571 mil moradores de Aracaju, mais 280 mil recebiam até dois salários mínimos por mês. Enquanto isso, segundo o Censo, somente 1.347 pessoas informaram que recebiam mais de 30 salários mínimos. Além de injusta na renda, é racista. De acordo com os dados, 2.256 pessoas brancas recebiam mais de 20 salários mínimos. Nessa faixa de renda, apenas 199 eram negras.

Quando se observam dados sobre água, por exemplo, percebe-se que Aracaju ainda tem 3.535 casas sem receber água encanada e tratada e mais de 270 residências sequer têm energia elétrica. Qualidade de vida para quem?

Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento denunciam que Aracaju só atende 35% de sua população com esgotamento sanitário. Mais de 360 mil pessoas não têm acesso à rede de esgoto, isto é, vive na cidade sem o básico, o saneamento. E mais: 64% da água consumida em Aracaju é jogada no meio ambiente sem qualquer tipo de tratamento.

Água é item fundamental na saúde e nesse quesito, Aracaju também não vai bem. A capital da qualidade de vida ocupa a sétima colocação em gastos com saúde no Nordeste. Ganha apenas de Recife (15,12%) e Salvador (10,59%). Aracaju perde em investimento em saúde para Maceió, João Pessoa, Teresina, Fortaleza, São Luís e Natal.

Os problemas são inúmeros: trânsito, transporte, educação, cultura, participação direta da população em seus destinos, etc, etc e etc. A questão central é que quando se escolhe um ou outro nome para prefeito se escolhe um modelo de gestão que será implantado. Alguns candidatados têm relações íntimas com os grupos econômicos que dominam Sergipe faz anos. Em benefício da acumulação de bens nas mãos de poucos, esses grupos levam Aracaju para o estrangulamento urbano e destruição do meio ambiente, produzindo um quadro de profunda injustiça social.

Muitos desses candidatos a prefeitura da capital já foram e vão continua sendo financiados por construtoras e empresas que têm relação direta com esse desenvolvimento predatório da cidade. O que farão se forem eleitos? Vão romper com esses compromissos? É óbvio que não, muito pelo contrário.

Quais dos cinco candidatos ao cargo de prefeito de Aracaju teria independência e condições de dizer NÃO à corrupção pública e privada? Dizer NÃO as grandes empreiteiras? Dizer NÃO aos esquemas do lixo, do transporte, das obras, das compras e dos serviços?

Qual deles faria uma gestão participativa, democrática, ouvindo as comunidades e resolvendo junto com elas os problemas mais imediatos? Qual deles vai se empenhar - e não apenas no discurso - na educação e saúde públicas? Qual terá verdadeiro compromisso com o meio ambiente, contrariando a especulação imobiliária? Quem vai ouvir, dialogar e respeitar os servidores públicos? Quem fará uma gestão pública rigorosamente aberta e transparente em todos os seus atos? Qual vai levar a gestão municipal a reduzir os graves problemas urbanos e as injustiças sociais?

Como se observa, eleger uma pessoa não é escolher uma miss ou torcer por time de futebol. Essas escolhas não têm conseqüências sérias na vida de ninguém. Já a eleição para gestão pública impõe reflexos profundos agora e no futuro.

Cada um dos cinco candidatos representa um modelo de cidade que temos e teremos em breve: se vai aprofundar o caos urbano, baseado no desenvolvimento predatório e corrupto do capital para poucos ou se vai romper com essa lógica perversa e apontar para outro rumo. Depende de quem?
TWITTER @cristiangoes

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