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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Transporte público em Aracaju: onde há poder há resistência


Paulo Victor Melo*

A população sergipana amanheceu ontem (1) com a informação de que o sindicato das empresas de transporte de passageiros de Aracaju (Setransp) solicitou na última quarta-feira à Prefeitura de Aracaju o reajuste da tarifa de ônibus para R$ 2,52.

A notícia não é nenhuma novidade, já que a cada início de ano os empresários do setor de transporte pleiteiam aumento nas tarifas. Nunca é demais lembrar que de 2000 até o ano passado, o valor da passagem de ônibus na “cidade da qualidade de vida” aumentou 150%, passando de R$ 0,90 para R$ 2,25. De lá pra cá, apenas em 2005 não houve aumento.

A estratégia das empresas de transporte é sempre a mesma: “pedir o ótimo” para “ganhar o bom”. Ou seja, o Setransp pede R$ 2,52 para discutir e chegar a um acordo com a PMA num valor menor, desde que o aumento seja garantido. Quem não se recorda do ano passado, quando o pleito dos empresários era R$ 2,45 e a tarifa subiu para R$ 2,25?

Na prática, este jogo das empresas é uma conseqüência das relações pouco republicanas – quando não promíscuas – entre empresários e poder público. As empresas de transportes são responsáveis por grande parte do bolo do financiamento das campanhas eleitorais dos principais partidos do país. A cada início de ano, é hora de pedir o troco. E quem paga?

Os argumentos do Setransp para requerer o aumento também são conhecidos: altas taxas tributárias, gratuidades, transporte clandestino e melhoria do serviço… Mas, nas ruas e avenidas de Aracaju o que a população conhece bem é a realidade do transporte público: ônibus superlotados, sem horários definidos, alguns aos pedaços, e trabalhadores com elevado nível de stress por conta da pressão que sofrem cotidianamente.

Mas como escreveu o filósofo francês Michel Foucault, onde há poder há resistência. E em Aracaju, não é diferente.

Antes mesmo do pedido de reajuste da tarifa pelo Setransp, estudantes, trabalhadores e sindicalistas intensificaram o processo de mobilização e criaram a Frente em Defesa do Transporte Público, Gratuito e de Qualidade para Aracaju e Grande Aracaju.

Por si só, o nome da articulação diz quais as suas propostas para o transporte público na região metropolitana. Destaco algumas, como congelamento da tarifa, melhoria do serviço (com mais linhas, renovação da frota e reforma dos terminais); licitação pública transparente; audiência pública com sociedade para discutir o transporte público; divulgação dos lucros das empresas; e estatização do transporte coletivo.

Grande como o nome da articulação é a quantidade de desafios que a Frente terá, afinal está lidando com o flerte entre o poder econômico e o poder político sergipanos. Será preciso muita ação nas ruas, muitos ônibus e terminais parados e um intenso trabalho pedagógico, que sensibilize a população a exigir respeito e lutar pelos seus direitos.

*Por Paulo Victor Melo, jornalista

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