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sábado, 26 de março de 2011

“Pobre México tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos” e o Brasil???


Essa frase tem mais de cem anos de existência e refere-se há época em que o México tinha perdido grandes porções do seu território para os EUA. Assim a alusão à proximidade com os Estados Unidos que explorou as instabilidades internas do México e conquistaram mais de 1 milhão de quilômetros quadrados de territórios originalmente mexicanos. Esses territórios correspondem aos atuais Estados estadunidenses do Texas, Arizona, Novo México e Califórnia.

A visita do Presidente estadunidense Barack Obama ao Brasil nos últimos dias 19 e 20 de Março, além circo armado, foi para tratar de negócios como a exploração do pré-sal pelas multinacionais estadunidenses. Os interesses dos Estados Unidos pela economia brasileira m ser visto com muitas preocupações, pois a experiência mexicana não é boa. Vejamos alguns fatos.

Primeiramente, os Estados Unidos têm, há muito tempo, adotado uma política de perseguição sem precedentes aos imigrantes. Para seus governantes, o perigo da soberania nacional está na fronteira e os inimigos são os imigrantes ilegais (africanos, asiáticos e latinos, principalmente mexicanos) que vêem lá uma oportunidade de vida melhor. A imagem vendida para o mundo, através do cinema, de excelente qualidade de vida do povo estadunidense é um dos principais elementos que estimula a vontade de muitos em viver na terra do “sonho de consumo capitalista”.

A política neonazista, cada vez mais forte entre os políticos transformam republicanos e liberais em verdadeiros conservadores defensores do “emprego” dos estadunidenses. No discurso deles, a culpa do desemprego crescer nos Estados Unidos é dos imigrantes. Assim, em vez de promoverem políticas para crescer a economia, gerar emprego e estimular o consumo preferem culpar que não tem culpa pelos problemas estruturais do país. A liberalização crescente do capital financeiro e o monopólio das grandes empresas levaram o país para uma crise econômica em proporções piores do que a crise de 1929.

O discurso neonazista da necessidade de conter a “invasão de imigrantes pela fronteira com o México” tem se concretizado com a operações Bloqueio, desde 1994, para defender a linha de fronteiras de leste a oeste do país. Mas os preconceitos e reclamações contra os imigrantes terminam quando o garçom serve a comida, a doméstica limpa a casa, pega-se um taxi, recolhe o lixo na frente das casas e/ou compra-se batatas no supermercado. A mão de obra mexicana é fundamental para que o sistema funcione. Há centenas de milhares de pobres no mundo que gostariam de estar no lugar dos mexicanos. A única vantagem diferencial é que os mexicanos estão pertos, disponíveis e são descartáveis.

O discurso anti imigrante é um instrumento para manter a situação de ilegalidade de muitos que entram no país sem autorização e isso, economicamente, é necessário e lucrativo. O melhor trabalhador para as empresas são aqueles sem documentos, que são tratados como ilegais e têm que se esconder, viver com medo, não podem reclamar e carecem de direitos. Eles são tratados como escravos, mas essa situação apenas existe nos centros urbanos. As batidas policiais ocorrem nas fábricas, no comércio, nos restaurantes onde há trabalhadores em excesso, facilmente substituíveis, ou seja, descartáveis sem qualquer direito trabalhista. Há muitos anos que não há batidas em zonas agrícolas, onde os trabalhadores são mais escassos e não há substituição como acontece nas cidades. Cerca de 85% dos trabalhadores agrícolas dos EUA nasceram no México e a maioria deles não tem documentos.

Os imigrantes cruzam a fronteira dos Estados Unidos com o México e entram ilegalmente no país. Alguns pagam até U$ 10 mil para poderem cruzar a fronteira, mas nem todos conseguem. Muitos morrem de fome, de sede, afogados, e outros são mortos por fazendeiros ou por trabalhadores agrícolas que se sentem ameaçados. Essa vontade de conquistar melhores condições de vida é resultado da desigualdade social relacionada a má distribuição de renda, ao desemprego, a violência e a pobreza nas nações pobres da América Latina. Daí migram pessoas tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos. Entretanto, é do México o maior contingente dessas pessoas.

Como meio para barrar a entrada ilegal de imigrante, o governo estadunidense está construindo um muro fronteiriço separando Estados Unidos do México. A construção do muro teve início em 1994 com o programa anti-imigração-ilegal conhecido como Operação Guardião (Operation Gatekeeper). Atualmente é formado por vários quilômetros de extensão, inclui três barreiras de contenção, iluminação de alta intensidade, detectores antipessoais de movimento, sensores electrônicos e câmara de visão noturna ligadas a radiocomunicações com a polícia de fronteira dos Estados Unidos, bem como vigilância permanente com veículos e helicópteros com artilharia pesada.

O muro, antes de mais nada, é ideológico, que impede a ultrapassagem dos "subdesenvolvidos" para o mundo desenvolvido. Entretanto, manter os mexicanos no seu país interessa, diretamente, as empresas maquiladoras (montadoras) estadunidenses que migraram para México a partir da criação do NAFTA. No México elas pagam baixos salários, negam direitos trabalhistas, destroem o meio ambiente, tudo com a permissão do governo.

Coincidentemente, o início da construção do muro separando os dois países aconteceu no mesmo ano (1994) que foi assinado o NAFTA-Acordo Norte-Americano de Livre Comércio composto por (México, Canadá e Estados Unidos). Na época, o discurso para a população mexicana era sobre os aspectos positivos que o bloco econômico traria para o país. Mas a população ainda aguarda pela concretização desses benefícios. Mais da metade dela vive na pobreza e 19% na miséria. Nos anos de vigência do Nafta, a cesta básica de alimentos aumentou em 560% o seu valor, enquanto que os salários cresceram apenas 136%.

Em 1994, a média salarial dos trabalhadores mexicanos era de US$ 2,10 por hora na indústria manufatureira, caindo para US$ 1,90 por hora em 1999. No mesmo período, o trabalho informal aumentou substancialmente devido ao desemprego. Atualmente atinge cerca de 50% do total dos trabalhadores mexicanos em atividade. Esses trabalhadores não têm quaisquer direitos trabalhistas recebem baixos salários, não têm direito à sindicalização, aposentadoria, férias ou licença por motivo de doença. Numa população perto de 100 milhões de habitantes, cerca de 20 milhões sobrevivem em precárias condições de trabalho. A renda per capita caiu 40% em média, pois as demissões, o êxodo rural, a falência das micro e pequenas empresas e a concentração de terras contribuíram diretamente para isso.

Os defensores do NAFTA argumentam que ele provocou uma grande elevação das exportações mexicanas. De fato, nos primeiros anos de vigência do Nafta, as exportações do México cresceram 25%, mas suas importações aumentaram 73%, gerando um déficit assustador na Balança Comercial. Entretanto, no mesmo período havia 105.225 trabalhadores desempregados no campo e nas cidades, segundo cifras oficiais.

Para os trabalhadores estadunidenses o acordo, também, foi prejudicial. Empresas dos EUA fecharam e foram instalar-se no México, onde a mão-de-obra era mais barata e as leis trabalhistas mais flexíveis. Nos EUA, estima-se que pelo menos 766 mil postos de trabalho foram eliminados na indústria desde 1994.

O Nafta é um acordo de livre comércio que estabelece uma eliminação tarifária progressiva, de forma que após dez anos após o início do acordo (2004), as barreiras comerciais deixariam de existir. Na área de serviços, o Nafta prevê uma abertura comercial, de forma a permitir o comércio entre fronteiras e ainda uma garantia de direitos de propriedade intelectual e tratamento diferenciado para os setores têxtil, de vestuário, automobilístico, de energia, de agricultura, de transporte terrestre e de telecomunicações.

Uma das novidades introduzidas pelo Nafta foram a instalação das chamadas “maquiladoras” no México, empresas imunes às leis trabalhistas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), essas empresas são as que mais empregam mão-de-obra infantil no planeta, colocando o país como campeão mundial nesse tipo de crime. Estima-se que 5 milhões de crianças menores de 14 anos estão trabalhando nessas empresas. Dez anos depois de existência do acordo econômico, mais da metade da população mexicana permanece vivendo na pobreza e o desemprego crescente, especialmente nos setores exportadores, os quais, supostamente, deveriam ser os maiores empregadores com assinatura do Nafta. Após o Nafta, cerca de 74% das importações mexicanas vêm dos EUA e 89% das exportações são dirigidas a este país. Quando a economia estadunidense sofre uma queda, como ocorre em 2008, a mexicana cai junto.

O controle da economia mexicana é feita por 300 grandes empresas, a maioria delas filiais de transnacionais estadunidenses. Em torno delas, agrupam-se as empresas “maquiladoras”, (situadas na região da fronteira com os EUA, onde se montam produtos com peças e componentes vindos dos Estados Unidos com vantagens decorrentes da mão-de-obra barata) que simplesmente fazem a montagem dos produtos e importam praticamente tudo, explorando a mão-de-obra mexicana, cerca de 15 vezes mais barata do que a estadunidense.

Esse grupo de 300 empresas, somadas às maquiladoras, são responsáveis por cerca de 96% das exportações mexicanas. Os 4% restantes vêm de pequenas e médias empresas, permanentemente ameaçadas, pelas grandes, de fechamento. A desnacionalização da economia mexicana é total. No setor têxtil, 71% das empresas são dos Estados Unidos, que se instalaram no país depois de aniquilar a concorrência mexicana.

No setor agrícola, os prejuízos não são menores. Segundo dados da Câmara Comercial Brasil-México, atualmente 90% do intercâmbio comercial mexicano é feito com os Estados Unidos. As exportações mexicanas de produtos agropecuários aumentaram nos últimos anos, saltando de US$ 3,2 bilhões, em 1993, para US$ 6,2 bilhões, em 2001. No entanto, a importação de produtos agropecuários estadunidenses pelo México também subiu muito.

Os produtores mexicanos não tiveram condições de enfrentar o poderoso sistema de subsídios que sustenta a agricultura estadunidense e a superioridade tecnológica. A produção mexicana de arroz foi substituída pelas importações dos EUA, que representam hoje mais de 50% do país latino. A batata, tradicional produto da pauta de exportações mexicana, foi barrada no mercado estadunidense, sob o pretexto de barreiras fito-sanitárias. Enquanto isso, a batata dos EUA invadiu o mercado mexicano. Tudo feito com a permissão e submissão criminosa do governo mexicano.

O México também era um importante exportador de algodão. Passou a ser um dos maiores importadores do produto. A superfície agrícola do México foi reduzida e calcula-se que há hoje cerca de 06 milhões de camponeses sem terra, que antes trabalham em cultivos que foram substituídos por produtos vindos dos Estados Unidos. Esses camponeses engrossaram as fileiras dos mexicanos que tentam atravessar o muro que os EUA construíram na fronteira ao longo do rio Grande. Muito deles acabam morrendo ou sendo presos pela polícia de imigração estadunidense. Após quase duas década de vigência do acordo, mais da metade da população mexicana não tem muito o que comemorar.

O desenvolvimento deve possibilitar que todos os indivíduos aumentem suas capacidades humanas de forma plena e que possam usufruir, em todos os sentidos, das condições econômicas, culturais ou políticos que seu país oferece. O desenvolvimento é o nível de vida que uma população alcança quando habita em um meio social que lhe permite potencializar ao máximo suas capacidades humanas de bem estar. Esse nível de vida se denomina vida com qualidade, ou seja, qualidade de vida. Essa não é a realidade atual do México e dos mexicanos que continua longe de Deus e, infelizmente, ainda mais perto (dominado) pelos Estados Unidos.

O povo brasileiro, com certeza, não precisa passar por isso. A visita de Barack Obama foi um circo armada pelos meios de comunicações, mas por trás de sorrisos e discursos bonitos estão os interesses em transferir para cá a situação mexicana. O governo Lula adotou uma política de afastamento dos Estados Unidos e aproximação com os países do Mercosul, Africanos e Asiáticos, situação que ampliou as exportações brasileiras e potencializou a economia nacional. Tudo que os Estados Unidos não querem, pois suas empresas querem atuar como “ferida braba” comer sozinho, lucrando alto, gerando desemprego e destruindo a base econômica local e o meio ambiente. O Brasil, de fato, precisa disso???

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