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sábado, 9 de junho de 2012
Caos na saúde: Surto de infecção pode matar vários bebês em Sergipe
A maternidade Nossa Senhora de Lourdes está prestes a registrar a morte de vários recém-nascidos nos próximos dias, caso os gestores não tomem as devidas providências no sentido de reduzir a superlotação. Óbitos foram registrados e um bebê foi infectado pela bactéria Burkhodelia Cepácea [microorganismo resistente que pode gerar surto infeccioso na maternidade]. O velho problema da superlotação na unidade voltou a ser tema de audiência na Promotoria de Saúde do Ministério Público Estadual nesta sexta-feira, 8, levando o promotor Nilzir Soares Vieira a constatar estar havendo “um desastre anunciado”.
O médico neonatologista, Manoel Gomes explicou que a situação atual é de em média, 30 leitos críticos e semicríticos extras, funcionando além da capacidade. “Somado a diversas condições que a gente está vivendo na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, temos uma quantidade muito maior de pacientes por setor em espaço diminuído, crianças compartilhando equipamento de respiração, falta de álcool para a higienização das mãos, essencial para diminuir a infecção cruzada. Estamos em risco iminente de um surto sim a qualquer momento e estamos aqui tentando resolver o problema da superlotação”, ressalta.
Ele deixou claro na audiência que tem um paciente com uma bactéria naturalmente resistente à maioria dos antimicrobianos que pode levar a um surto. “Até agora só foi identificado um paciente, mas diante da situação calamitosa, há um risco a qualquer momento de surto. Já estamos vivendo situações graves de recém-nascidos desassistidos irem a óbitos”.
Demissão em massa
Na audiência, os médicos informaram a possibilidade de demissão em massa. “Não só os neonatolgistas, mas os profissionais de saúde como um todo chegaram a uma situação insustentável e já estão decididos a pedir demissão. O pessoal continua trabalhando por puro compromisso aos pacientes, por heroísmo mesmo. É uma situação que faz a gente sofrer muito e tira o nosso sono porque como indivíduo e profissional não temos o que fazer. A maternidade está pedindo socorro, já são cerca de 150% por cento de superlotação. Além do surto, tem várias situações que estão sendo geradas, bebês morrendo até mesmo de frio, pela falta de tomadas para manter os berços aquecidos.
“Não há mais tempo de a gente esperar para que tomem as providências. Entra secretário da saúde e sai e a situação na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes só piora. Os médicos estão diante de vidas que as mães estão perdendo devido à falta de assistência. Os bebês estão sendo colocados no corredor porque não tem espaço nas UTINs [Unidades de Tratamento Neo natais]”, lamenta o neonatologista Carlos Alberto Araújo.
Ele relatou que na última segunda-feira, estava com um bebê que precisava ir para a Utin, mas não tinha vaga. “O bebê ficou aguardando e estourou os pulmões, não resistindo. Acabou. Nós não vamos mais esperar e se só tiver vagas para cinco recém-nascidos e a direção colocar oito eu vou até a Delegacia Plantonista prestar queixa, pois todos sabem que não tem vagas, mas alguém da direção está liberando”, desabafa o neonatologista Carlos Alberto Araújo destacando que alguém precisa se responsabilizar pela morte dos recém-nascidos quando forem provocadas pela falta de leitos e de estrutura.
A neonatologista Nathalie Nissink afirmou que os médicos fizeram horas extras por cooperativa vinculada à Fundação Hospitalar de Saúde, mas ainda não receberam. “Agora nós só faremos horas extras se for via contracheque, porque não acreditamos em nenhuma proposta, fora esta, da Fundação Hospitalar de Saúde. Nós ainda não recebemos as horas extras feitas em setembro do ano passado. O nosso nível de estresse está sendo imenso, tanto pelo trabalho, quanto pelo alto número de mortalidade de crianças. Não foi pra isso que a gente se formou. Tem ocorrido várias mortes por conta da superlotação, que poderiam ser evitadas”, entende.
Contraponto
A diretora da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, Karline Rabelo admitiu os problemas. “A situação é de extrema gravidade. A gente já passou por isso em 2008 quando 12 bebês morreram por conta de infecções. Já comuniquei à Secretaria de Estado da Saúde e à Fundação Hospitalar de Saúde, a situação da superlotação e qualquer superlotação pode levar a uma infecção sempre. Eu sugiro contratar novos leitos de UTIs em Aracaju, em maternidades particulares e filantrópicas,a exemplo da Santa Izabel, Primavera, e Renascença que não estão funcionando. e contratar profissionais por seis meses em caráter de emergência”, destaca.
Quanto ao fato de a direção estar recebendo bebês, mesmo sabendo que a lotação está completa, ela disse que existe um procedimento chamado Vaga Zero. “Existe uma coisa chamada vaga zero, que quando não há nenhuma possibilidade de tratamento em outro local, a maternidade tem que aceitar porque somos a referência de alto risco, mas às vezes não temos o local. Foi o que aconteceu recentemente quando um promotor de justiça exigindo que eu desse uma vaga pedindo para colocar uma criança do interior e quando eu disse que não tinha, respondeu que era obrigação, mas eu só tenho obrigação, se tenho lugar”, alerta.
E a representante da Fundação Hospitalar, Iza Prado, informou que vem ocorrendo uma tentativa de redirecionar os partos para o interior, reduzindo a sobrecarga na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes e que a maternidade do Hospital de Nossa Senhora do Socorro está dependendo da conclusão das instalações elétricas, que pode acontecer em um prazo de seis meses.
Caos no feriado
A presidente da Sociedade de Pediatria de Sergipe, Glória Tereza Lopes, informou que “o clima foi de caos nesta quinta-feira, 7. Vários colegas me telefonaram relatando a superlotação, o que os deixou desesperados, principalmente pelo fato de pacientes de alto risco estarem sendo colocados junto com de baixo e médio risco. Essa superlotação pode levar à morte de vários bebês. É um fato grave e a falta de resolução imediata pode levar os profissionais a pedir demissão coletiva, pois o Governo vem arrastando essa decisão há mais de um ano, há seis meses o Ministério Público entrou com Ação Civil Pública e o Estado ainda não tomou providências”, entende.
Quanto à UTI da Maternidade Santa Izabel continuar ociosa, Glória Tereza foi enfática: “É um cinismo do Governo do Estado, que traz o ministro da Saúde, faz festa, inaugura, o serviço está lá, é adequado, mas não funciona”.
Recomendações
Após os relatos, o promotor Nilzir Soares recomendou ao Governo do Estado e à Prefeitura de Aracaju, a contração em caráter emergencial, no prazo de 30 dias, leitos de Utins e Unidades de Cuidados Intermediários, em número suficiente para atender ao excesso de demanda na Nossa Senhora de Lourdes [atualmente de 30 leitos] em entidades filantrópicas ou em clínicas particulares e autorizar a direção da unidade de saúde a remunerar horas extras aos profissionais estatutários no prazo de 15 dias e ainda fixou prazo de 10 dias para os órgãos responsáveis se manifestarem.
“Em casos de riscos para as mães e os bebês, os médicos devem comunicar a direção para procurar vagas junto aos órgãos de regulação e a direção deve informar imediatamente ao Ministério Público eventual desatendimento desses pleitos da maternidade”, alerta o promotor.
Fonte: Facebook da Rádio Cultura AM
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